Pintando Um Futuro Sustentável: O Poder da Arte na Agenda ESG
Pintando Um Futuro Sustentável: O Poder da Arte na Agenda ESG
Em essência, é possível dizer que a arte funciona como uma espécie de espelho que reflete questões fundamentais dos momentos nos quais foi criada. No entanto, ela não se limita a apenas ponderar o que já existe de maneira passiva: a arte também se prova, vez após vez, como um veículo transformador, impulsionando a sociedade em direção ao futuro.
Não raro, os questionamentos que surgem a partir de produções artísticas estão na vanguarda do pensamento humano, antecipando debates e sensibilizando espectadores para questões que muitas vezes ainda não estão completamente inseridas no discurso popular ou dominante.
Se trouxermos essa premissa para nosso momento histórico, isso fica ainda mais evidente. Isso porque uma das grandes preocupações globais tem sido, nas últimas décadas, o impacto das atividades humanas no planeta. Neste contexto, o ESG — sigla para Environmental, Social, and Governance (Ambiental, Social e Governança) — vem se consolidando como um conceito que transcende o setor corporativo, permeando várias esferas da sociedade, o que certamente inclui o universo das artes.
Atualmente, eventos artísticos e produções culturais voltadas para pautas pertinentes às discussões e diretrizes ESG têm desempenhado um papel cada vez mais essencial (e até indispensável, diga-se de passagem) na construção de narrativas que não só promovem a reflexão, mas também têm o poder de catalisar mudanças reais e tangíveis.
Ao mesmo tempo em que as pautas se atualizam e se tornam cada vez mais identificáveis nos nossos cotidianos, a arte se torna mais democrática, expandindo-se para além dos museus e galerias para alcançar novos grupos em espaços públicos, digitais e interativos.
Muitos artistas contemporâneos estão criando obras que não apenas encantam esteticamente, mas também provocam reflexões sobre questões urgentes como sustentabilidade, justiça social e mudanças climáticas. Esse movimento reconhece o poder da arte em influenciar comportamentos e gerar diálogos transformadores.
Arte como Ferramenta de Consciência Ambiental
O cenário global em 2024 destacou de forma pungente a urgência das discussões sobre ESG. O Brasil, por exemplo, está enfrentando uma das maiores crises ambientais de sua história recente, com queimadas em níveis recordes. Esses desastres não afetam apenas a biodiversidade, mas têm um impacto profundo na sociedade e na economia.
É nesse contexto que a arte adquire um novo papel de protagonismo. Eventos de arte, festivais e exposições voltados para discutir questões ambientais não se mantêm apenas num plano conceitual, mas também propõem soluções, seja através de um visual provocativo ou calls to action cada vez mais claros.
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Exposições e intervenções artísticas como a Jaguar Parade, que leva esculturas de onças-pintadas a grandes cidades para conscientizar sobre a preservação da espécie, exemplificam como a arte pode ser um agente de mudança na proteção do meio ambiente. Ao final de cada edição, as esculturas são leiloadas, e o valor arrecadado é doado a ONGs dedicadas à conservação desse majestoso felino, o maior das Américas. Isso evidencia a influência real da arte na prática, uma vez que salvar as onças também significa garantir um amanhã mais sustentável.
Outro exemplo são as instalações que utilizam materiais reciclados, como plásticos retirados dos oceanos, para evidenciar a urgência de uma economia circular. Em Montreal, no Canadá, o projeto WasteScapes combina arte e educação ao oferecer um app interativo que apresenta mais de 40 locais de resíduos pela cidade.
Funciona assim: os usuários exploram esses espaços de novas maneiras, encontrando obras de arte de guerrilha e pistas sobre infraestruturas subterrâneas de resíduos. Tal como no Pokémon Go, é necessário estar presente para desbloquear conteúdos que incluem histórias em áudio e fotos. Esse projeto ressalta as interseções entre desperdício e colonialismo, transformando a arte em uma ferramenta poderosa para inspirar ações sustentáveis e de conscientização.
Manifestações artísticas como essas criam uma experiência visual e sensorial que desperta emoções, trazendo o público para mais perto da discussão sobre os impactos das mudanças climáticas, desmatamento e poluição. A arte, nesses casos, se transforma em uma ponte de diálogo entre o espectador e as questões urgentes que o rodeiam.
Arte e Justiça Social: O Papel da Inclusão
Outro pilar essencial do ESG está ligado à justiça social, e aqui, novamente, a arte se destaca como uma plataforma poderosa de divulgação desses ideais. Eventos e exposições que debatem desigualdades sociais têm emergido em diversas partes do mundo, criando espaços para vozes muitas vezes marginalizadas. O Art of Love SP 2024 e sua vertente, Art of Love Comunidades, exemplificam essa abordagem ao levar às ruas não apenas corações artisticamente concebidos, mas também vozes silenciadas. Várias casas de cultura de São Paulo foram palco de pinturas ao vivo, bem como a curadoria e seleção dos artistas foi pensada a fim de priorizar artistas de várias comunidades da cidade.
Com a ONG Gerando Falcões como beneficiária, o projeto visa transformar a pobreza em visibilidade e oportunidades nas favelas, promovendo melhores condições de estudo, empreendedorismo e cultura para um número cada vez maior de pessoas.
No Brasil, a arte de rua e as manifestações culturais urbanas já vêm há muito agindo como veículo de denúncia da falta de voz de certas classes sociais nos debates e circuitos tradicionais. Neste sentido, a parceria com grandes empresas do setor privado como patrocinadoras de projetos artísticos engajados não apenas amplifica essa mensagem, mas também gera um impacto significativo e mais duradouro.
Governança e o Futuro dos Eventos Artísticos
A realização de eventos artísticos focados em causa deve ser acompanhada de uma governança responsável. O compromisso genuíno de instituições e patrocinadores com os valores ESG não apenas fortalece essas iniciativas, mas também maximiza seu impacto.
Isso abrange desde a escolha de materiais sustentáveis e recicláveis até a organização do evento, considerando o impacto ambiental, como a pegada de carbono, e promovendo a inclusão social. A tônica dominante é a de que um evento de arte verdadeiramente alinhado a boas práticas ESG deve incorporar práticas sustentáveis em todas as fases da produção.
“Desenvolver eventos com foco ESG já não é mais uma visão de futuro; é uma responsabilidade presente. Projetos como a Jaguar Parade e o Art of Love são cuidadosamente planejados para refletir valores sustentáveis e de transparência. Trabalhamos com empresas que compartilham esse compromisso, priorizamos materiais sustentáveis, além de mantermos parcerias constantes com agências de compensação de carbono, promovendo o ‘green living’ na prática. Assim, nossa arte não só encanta, mas também reforça o impacto positivo e real que queremos ver no mundo.” – Giovane Pasa, CEO da Artery
Além disso, a preocupação ética é fundamental para garantir a credibilidade e o alcance dos objetivos, o que requer parcerias responsáveis, financiamento transparente e uma abordagem clara nas relações com stakeholders, artistas e comunidades. Do contrário, essas ações podem ser vistas como meramente performativas, uma vez que conceitos como o “greenwashing” ou “social-washing” dificilmente passam despercebidos pelo público.
Rumo ao futuro, é essencial que diálogos sobre o planeta se tornem mais frequentes e abrangentes. Para isso, devemos garantir que um número maior de pessoas e instituições tenham voz. Assim, é fundamental que as causas recebam a devida atenção, e isso deve estar no cerne dos esforços ESG.
A arte desempenha um papel importante na promoção desses diálogos, tornando-os acessíveis e democratizados. Em um mundo onde cada vez mais pessoas podem se expressar, precisamos assegurar que suas mensagens e necessidades sejam ouvidas e consideradas. Estamos nos preparando para isso?